afinal, não sou guerreira nem nobre por natureza, senão conciliadora por determinação, e humana, demasiadamente humana, presa das tramas inenarráveis do bem e do mal, por mera condição.
apesar disso:
- afirmo a vida em todas as suas manifestações: na paixão e na alegria - é fácil! - na dor e no sofrimento
- digo sim a mim, sem me preocupar em negar o que e quem quer que esteja a meu redor
- não concebo um único pensamento que não passe pelo meu corpo, meu coração, meu sangue, minha intuição, minha experiência
domingo, 4 de dezembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
A beleza da vida...
está no que há nela de irredutível a um movimento único, a uma razão absoluta, está no fluxo incessante de infinitos movimentos que divergem e convergem, na latência dos sentidos, na precipitação das formas, na emergência simultânea da morte e da vitalidade, da tristeza e da alegria, do sofrimento e do prazer, de razões e desrazões, afetos e pulsões, do que é e não é, do que poderia ter sido, mas jamais será como projetamos, pois escapa sempre ao que somos, sabemos, até imaginamos.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
autoconhecimento
foi a forma que consegui para ganhar autoconfiança: me desconhecendo completamente do que sou a cada vez.
sábado, 15 de outubro de 2011
Ética
Quando o ódio cresce demais e cega: não troco insultos para não deslocá-lo.
Porque o ódio é importante demais, destrutivo demais para ser banalizado.
O ódio mata. E não morre.
Então eu o tomo em bruto e me recolho, me decomponho, desconstruo, até virar pó e poder afirmá-lo enquanto já não é.
Para, no olhar do outro que me espera, refazer-me inteiramente.
Porque o ódio é importante demais, destrutivo demais para ser banalizado.
O ódio mata. E não morre.
Então eu o tomo em bruto e me recolho, me decomponho, desconstruo, até virar pó e poder afirmá-lo enquanto já não é.
Para, no olhar do outro que me espera, refazer-me inteiramente.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
quinta-feira, 21 de julho de 2011
A dor constitui
Vira-te do avesso: verás como és ainda mais belo do que pretendes ao esconder do mundo tuas cicatrizes. Espalha pelo teu corpo as feridas que meteste na alma, torna tua pele ainda mais sensível a todo toque: verás como resistes a tudo com mais coragem.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
A poesia é uma verdade de amor
Quando sucumbo diante da beleza das palavras: o que é isso?
Respirar a poesia por dentro, para não falar dela como de algo apreensível
Abraçá-la como a um animal amado, um cavalo com o qual se cavalga por tardes e tardes de verão, por exemplo
Sentir-lhe a respiração
Sua matéria vibrando
Desfazê-la sob a pele
Transpirá-la
Confundir com ela seus órgãos, corpo, pele, ritmo
Só então se pode falar do que é a poesia
Falar talvez sem palavras
Com o mínimo de palavras possível
Não falar, falando
A poesia não é assunto de entendidos, literatos, intelectuais
Não se deve despi-la: ela não resiste ao olhar da ciência
É necessário contemplá-la toda, em sua estrutura de versos e sentidos
A poesia tem que sair dos círculos fechados, ganhar as ruas e praças
Atirá-la aos braços e aos pés dos que passam
Oferecendo-a como se oferece flores, abraços, carinho
Alguns poderão sorrir
Alguns poderão recolhê-la, afagá-la, levá-la consigo, guardá-la como amuleto
Alguns haverão de pisá-la, desprezá-la, ignorá-la?
Alguns mais distraídos serão tomados, invadidos de súbito
E poderão acordar com a poesia batendo dentro do seu peito
Despejar a poesia a baldes pelos caminhos e perguntar:
O que aconteceu?
O que você sente?
O que ela invoca?
Ela é a musa?
A mãe?
A mulher
A amada
O amado
O perdido
Esta será a verdade sobre a poesia: a verdade dita a ela como se esconde ou revela a verdade de amor
Porque a poesia é uma verdade de amor
Encerra um sentido que dorme em cada um de nós
Invoca a paixão
Lateja como o desejo
Pulsa
Como a própria vida
terça-feira, 19 de julho de 2011
caos e possibilidade
“Eu próprio tentei descobrir, desde o começo, ainda criança, o que é certo e o que é errado – uma vez que ninguém à minha volta podia me dizer. E além disso vejo agora que tudo me abandona, que preciso de alguém que me mostre o caminho e me dê censura e elogio, não pelo poder mas pela autoridade, preciso de meu pai. Eu achava que sabia, que tinha controle sobre mim mesmo, não (sei?) ainda” (Camus, O primeiro homem)
Não há como existir só. Somos o que somos porque não nos bastamos: no outro nos abrimos e tornamo-nos mais verdadeira e inteiramente incompletos.
O cerne da questão moral, ética, estética, existencial se expressa em um paradoxo: a ninguém darei jamais o direito de proferir minha própria loucura, a mim mesmo cabe pronunciá-la. Cada um sabe, guarda e proclama em si o sentido supremo de sua própria loucura e sanidade. Desse sentido se desdobra o diálogo, a conciliação. O que se põe antes é o caos e a possibilidade.
Não há como existir só. Somos o que somos porque não nos bastamos: no outro nos abrimos e tornamo-nos mais verdadeira e inteiramente incompletos.
O cerne da questão moral, ética, estética, existencial se expressa em um paradoxo: a ninguém darei jamais o direito de proferir minha própria loucura, a mim mesmo cabe pronunciá-la. Cada um sabe, guarda e proclama em si o sentido supremo de sua própria loucura e sanidade. Desse sentido se desdobra o diálogo, a conciliação. O que se põe antes é o caos e a possibilidade.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Sobre as paixões da alma
Para Kant, o problema é: "como curar um doente que não quer curar a si mesmo?"
"Paixões são tremores malignos da razão prática pura e, na maioria das vezes, incuráveis, pois o doente não quer se curar e se colocar sob o domínio do princípio apenas através do qual isso poderia ocorrer" (Kant)
O que dizer de uma razão que pretende controlar o que é incontrolável? E de uma paixão absolutamente inabordável?
Razão e Paixão, assim, não remetem à força e ao poder inabalável dos deuses, diante do qual nada pode o homem senão resignar-se, submeter-se?
Não haverá para nós - tão incompletos, parciais, mortais, tateadores, intuitivos, perseguidores incansáveis da verdade, do lume, que escapa, que nos cega - uma paixão e uma razão mais frágeis, flexíveis, um pouco mais humanas?
"Paixões são tremores malignos da razão prática pura e, na maioria das vezes, incuráveis, pois o doente não quer se curar e se colocar sob o domínio do princípio apenas através do qual isso poderia ocorrer" (Kant)
O que dizer de uma razão que pretende controlar o que é incontrolável? E de uma paixão absolutamente inabordável?
Razão e Paixão, assim, não remetem à força e ao poder inabalável dos deuses, diante do qual nada pode o homem senão resignar-se, submeter-se?
Não haverá para nós - tão incompletos, parciais, mortais, tateadores, intuitivos, perseguidores incansáveis da verdade, do lume, que escapa, que nos cega - uma paixão e uma razão mais frágeis, flexíveis, um pouco mais humanas?
Três maneiras de compreender o trágico
de acordo com o estado de espírito, a boa vontade, a capacidade de ver, ouvir, cheirar e gargalhar de cada um;
porque tudo, e até a negação disto, é uma simples questão de disposição e competências sensoriais;
e destino é o que está aquém de nossos desejos;
e trágica é toda e qualquer possibilidade de ir além:
- o trágico ignora seu destino e a ele fatalmente se lança
- o trágico nega seu destino e com ele se depara de repente
- o trágico afirma seu destino e a ele acena como possibilidade
Movimento e Silêncio
Falamos tanta bobagem, tanta coisa estranha e sem nenhum sentido, fazemos tanto movimento, que tudo isso só pode caber mesmo numa quietude infinita. Tão grande e intensa quanto um buraco que engole tudo quanto há.
Só a quietude há de haver de fato: no silêncio que repousa, que não é nada, porque é tudo.
Se tentamos explicar, começamos a não conseguir. Quando tudo está quieto, repousa, em silêncio, aí tudo se explica, está explicado.
Precisamos ser imensamente grandes e largos para comportar o repouso e o silêncio em nós. Padecemos de um movimento que nos comprime e nunca cessa, porque não há espaço suficiente para tudo.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
arte loucura normalidade
arte não é prerrogativa nem de loucos nem de sãos
homens e mulheres não se dividem entre loucos e sãos
se integram desintegram reintegram-se
na loucura e na sanidade
a arte se projeta no espaço
no vazio que seja
entre loucura e normalidade
não há uma sem outra
não há arte sem as duas pontas
quarta-feira, 6 de abril de 2011
O amante solitário da feminilidade bruta
O amante solitário da feminilidade bruta não pode amar a deusa pop da verdade lírica (que inventei um dia e depois vou apresentar em um blog a parte), que age com uma intenção erótico-poética, ele ama as mulheres que agem instintivamente, sem qualquer intenção, e que na sua ação-errância, sempre o acertam como alvo.
O amante solitário ama a feminilidade bruta que a deusa pop oculta sob sua verdade lírica. Um seduz com a verdade, outro, com a solidão que o habita. Para que eles se encontrassem, seria necessário despirem-se totalmente de sua verdade e solidão.
Eu sou o amante solitário da feminilidade bruta
Que nasce de uma mulher e se masculiniza
Aos poucos, entre trapos, bordados e fitas de cetim
Aprende a amar amando o que naturalmente o desfigura
Um cavaleiro pós-moderno, estranho entre todos
Que se despe circunstancialmente das suas marcas
Faz-se singular na pluralidade das vozes
Diferente entre todos, mais um entre muitos
Sem amigos, persegue seu desejo
Perscruta o que sussurra
Ai, as mulheres,
seus cheiros, umidades
por labirintos e labirintos de sons
inescrutáveis
O amante solitário ama a feminilidade bruta que a deusa pop oculta sob sua verdade lírica. Um seduz com a verdade, outro, com a solidão que o habita. Para que eles se encontrassem, seria necessário despirem-se totalmente de sua verdade e solidão.
Eu sou o amante solitário da feminilidade bruta
Que nasce de uma mulher e se masculiniza
Aos poucos, entre trapos, bordados e fitas de cetim
Aprende a amar amando o que naturalmente o desfigura
Um cavaleiro pós-moderno, estranho entre todos
Que se despe circunstancialmente das suas marcas
Faz-se singular na pluralidade das vozes
Diferente entre todos, mais um entre muitos
Sem amigos, persegue seu desejo
Perscruta o que sussurra
Ai, as mulheres,
seus cheiros, umidades
por labirintos e labirintos de sons
inescrutáveis
medo - da série encontros quase tristes
ai que medo que eu tenho
dos gritos de raiva que ecoam pela rua
e adentram sem aviso pela janela da minha casa
que medo que eu tenho
das lufadas de vento
que sopram no meu peito
quando você surge na minha frente
toda raiva e vento das ruas do mundo
remetem-me ao campo devastado da minha memória sempre presente
o que haverá em você além da minha paixão
por vencer a resistência a este amor que ofereço de mãos abertas?
a leveza da sua pele
a sensualidade na sua alma
tudo isso será apenas meu amor dançando entre seus passos errantes
ou haverá entre nós
ainda
espaço para ver perceber sentir
apesar do que imobiliza?
quarta-feira, 30 de março de 2011
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